A Valve acertou ao abrir mão dos qualificatórios regionais?
A Valve anunciou recentemente que os Qualificatórios Regionais do Major (MRQs) não farão mais parte do caminho para o Major de Budapeste da Starladder de 2025, que acontecerá de 24 de novembro a 14 de dezembro. Em vez disso, as equipes se classificarão exclusivamente com base no Valve Regional Standings (VRS), um sistema de ranking criado para padronizar a competição global, integrando o desempenho das equipes em eventos de terceiros.
Embora a mudança simplifique a estrutura competitiva no papel, seus efeitos colaterais, especialmente sobre times de Tier-2, já estão gerando debates acalorados na comunidade de Counter-Strike. Será que a Valve deu um grande passo à frente em integridade competitiva ou fechou a porta para uma das últimas oportunidades de entrada aberta para equipes azarãs?
Reação da Comunidade: Frustração, Confusão e uma Pitada de Humor
O anúncio gerou reação negativa generalizada na comunidade de Counter-Strike, com jogadores, fãs e até organizações expressando sua frustração. Muitos criticaram a Valve por puxar o tapete debaixo dos times que estavam se preparando para os MRQs de Budapeste – especialmente depois que as datas dos convites já haviam sido anunciadas.
Também surgiram preocupações sobre possíveis conflitos de interesse, especialmente em casos onde uma organização principal possui tanto um elenco principal quanto um elenco júnior, como a Natus Vincere e a NaVi Junior, ambas atualmente entre as 32 melhores.
Alguns profissionais, no entanto, optaram pelo humor em vez da indignação. Nicolai "dev1ce" Reedtz, da Astralis, brincou que, com o VRS determinando os convites, sua equipe finalmente pode acabar com o jejum de Majors, já que a Astralis ficou fora dos últimos cinco Majors desde o PGL Antwerp Major 2022.
O Fim das Portas Abertas
Os MRQs (e os RMRs antes deles) eram vistos como uma tábua de salvação para equipes de Tier-2 e emergentes. Não eram apenas uma chance de disputar um Major, mas uma oportunidade de reconhecimento, patrocínio e futuro. Nos últimos anos, histórias como a do Bad News Eagles se classificando e surpreendendo, ou até a ascensão recente da Lynn Vision Gaming, só foram possíveis graças a esses qualificatórios.
Com sua remoção, 32 equipes agora serão escolhidas diretamente com base no ranking do VRS, calculado ao longo de meses de torneios. Em essência, se sua equipe não teve desempenho consistente por seis meses, nem terá a chance de competir.
Um Sistema Feito para a Elite
Para entender as consequências, é essencial detalhar como o VRS funciona. Segundo a Valve, o ranking é baseado em uma combinação de métricas de desempenho:
- Bounty Offered: Prêmios em dinheiro conquistados, ajustados em relação às equipes que mais ganharam.
- Bounty Collected: Valor do prêmio dos times derrotados.
- Opponent Network: Medida da profundidade competitiva com base na variedade de times vencidos.
- LAN Factor: Peso adicional para vitórias em LAN.
Confira nosso artigo anterior para saber mais sobre o sistema VRS aqui. Esse sistema favorece times de Tier-1. Eles participam de mais eventos com premiações maiores, enfrentam adversários mais fortes e jogam em LANs com mais frequência. Mesmo um desempenho mediano de um Tier-1 rende pontos de ranking que superam o que um time de Tier-2 consegue por boas colocações em eventos online de menor expressão..
Pior ainda, eventos de Tier-2 raramente acontecem em LAN, o que significa que um dos principais modificadores do VRS costuma ser inacessível para eles. A menos que dominem consistentemente seu próprio nível e consigam espaço em competições de elite como a ESL Pro League, praticamente ficam impedidos de subir rapidamente no ranking.
O Abismo Crescente
A remoção dos MRQs não muda apenas o formato de classificação – ela amplia uma divisão já existente. Times de Tier-1 já se beneficiam de infraestrutura, participação constante em LANs e convites garantidos. Agora, com a classificação para o Major totalmente dependente do VRS, os azarões precisam “moer o sistema” ainda mais para serem reconhecidos.
A Valve não limitou a quantidade de torneios Tier-2 que organizadores podem realizar, o que poderia abrir mais oportunidades regionais. Mas realizar vários torneios só para acumular pontos VRS não é viável. O VRS é comparativo; você ganha mais pontos ao vencer times com ranking VRS alto, e derrotar adversários locais pouco altera sua posição.
Isso cria um paradoxo: os times de Tier-2 precisam jogar mais, vencer mais e bater adversários melhores, mas suas chances de fazer isso são limitadas pelos eventos disponíveis e pela força dos oponentes.
ESL Pro League: A Única Ponte?
Ainda existem algumas “tábuas de salvação”, como a ESL Pro League, que oferece uma rara mistura de competição entre Tier-1 e Tier-2. Esses eventos funcionam como vitrines onde os novatos podem chamar atenção e conquistar pontos valiosos no VRS. No entanto, são poucos e espaçados.
Para times de Tier-1 em crise, isso também pode ser um pesadelo – uma única temporada ruim pode ser desastrosa, empurrando-os para o mundo caótico dos eventos Tier-2, onde a recuperação é bem mais difícil.
A Visão da Valve: Uniforme, Mas Não Inclusiva?
A motivação da Valve é compreensível. Ao padronizar a classificação via VRS, eliminam redundâncias e unificam o circuito competitivo. Querem que torneios de terceiros se integrem ao ecossistema do Major de forma fluida, e o VRS ajuda a garantir isso.
Mas, ao fazer isso, também removeram a “magia” dos Majors: as histórias de Cinderela, as estrelas que surgem do nada, as narrativas românticas dos azarões. Em um sistema que só recompensa os melhores ao longo de longos períodos, o elemento surpresa e a pureza da competição aberta correm o risco de desaparecer.
O Que Pode Melhorar?
A Valve não precisa reverter a mudança, mas deve criar mais pontos de acesso significativos ao VRS para times em desenvolvimento. Aqui vão algumas sugestões:
- Qualificatórios abertos obrigatórios para um número definido de eventos Tier-1.
- Incentivos para eventos Tier-2 presenciais (LAN).
- Limitar o peso máximo do prêmio em dinheiro em torneios Tier-1.
Dê espaço para os pequenos respirarem. Se for para remover os MRQs, rotas alternativas para reconhecimento são fundamentais.
Veredito Final: Cautelosamente Pessimista
No papel, a decisão de remover os MRQs está alinhada com uma visão de longo prazo de consistência e integridade. Mas, na prática, corre o risco de marginalizar times em desenvolvimento, afastando-os ainda mais do círculo de elite ao qual aspiram pertencer.
A menos que a Valve equilibre o sistema VRS com mais acesso, transparência e justiça, o Major de Budapeste pode ser apenas o primeiro de muitos eventos em que o Major deixa de ser “para todos” – e passa a ser apenas para poucos.
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Fonte da imagem em destaque: StarLadder
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