background
Como a Europa Oriental Se Tornou a Melhor Região do Dota 2

Como a Europa Oriental Se Tornou a Melhor Região do Dota 2

25 Jul
Eric Oliveira

Em tempos imemoriais, o mundo do Dota 2 profissional era disputado ferozmente entre regiões — China e Europa reinavam no topo, enquanto Sudeste Asiático, América do Norte e CIS (hoje mais conhecida como Europa Oriental ou EEU) desempenhavam papéis de coadjuvantes de peso.

Olhando para o cenário competitivo em 2025, fica claro que a Europa se tornou a melhor região. Das performances dominantes em torneios internacionais (a Europa venceu 100% dos torneios Tier 1 deste ano) até a formação constante de novos prodígios de MMR altíssimo, a Europa Oriental virou o coração do Dota 2 mundial.

Mas como chegamos aqui? Vamos dar uma olhada em quais são os principais motivos que explicam por que a Europa Oriental — e a Europa como um todo — passou a dominar a cena profissional de Dota 2.

_________________________________________________________________________________

A PARIVISION é uma das equipes que mais venceu torneios em 2025.
A PARIVISION é só um dos vários exemplos de equipes inquestionavelmente fortes da região. — Imagem: ESL Dota

 

1. O Colapso do Cenário Chinês de Dota 2

Durante anos, equipes chinesas como a Invictus Gaming, a LGD e a Vici Gaming foram presença constante no topo do Dota internacional. O estilo de jogo disciplinado, infraestrutura forte e enorme base de fãs tornaram essas equipes eternas candidatas a títulos. Ainda que vejamos times chineses fortes vez ou outra, hoje o Dota Chinês é apenas uma fração do que já foi.

A Wings Gaming foi a última equipe chinesa a vencer o International no Dota 2.
Uma das maiores equipes todos os tempos, Wings. — Imagem: Valve

Nos últimos anos, a cena chinesa perdeu força por uma série de fatores:

  • O grande colapso pós-Wings Logo depois que a lendária Wings Gaming venceu o TI (há quase 8 anos), a cena chinesa sofreu uma série de golpes devastadores, em especial da ACE (Associação Chinesa de eSports), que praticamente destruiu o time impedindo os jogadores de competirem.
  • Matchfixing Em 2021, vimos a Valve banir mais de 40 jogadores chineses por conta de manipulação de resultados em torneios locais (eventualmente até mesmo no Circuito Profissional de Dota). Apesar de necessária, essa atitude eliminou a geração que deveria suceder os veteranos do Dota Chinês. Como resultado disso, os mesmos poucos nomes seguiram sendo reciclados em diferentes equipes — uma estagnação que persiste até hoje.
  • Jogos como Honor of Kings desviaram a nova geração de talentos que, de outra forma, poderia ter investido no Dota.

Sem exposição internacional consistente e com o interesse doméstico diminuindo, a China perdeu espaço — deixando uma lacuna que a Europa preencheu com força total.

2. A Queda do Dota 2 na América do Norte

Em segundo lugar temos a América do Norte, que sempre viveu à sombra da Europa e da China no Dota 2. Times lendários como a EG (Evil Geniuses) deram momentos de glória para a região, mas problemas estruturais drenaram a vitalidade da cena norte-americana lentamente:

  • Baixo número de jogadores ativos —  a América do Norte tem uma das menores bases ativas de jogadores de Dota 2 em relação ao seu tamanho.
  • Falta de parceiros de treino —  muitos times da América do Norte tiveram (e ainda têm) dificuldade em encontrar scrims de alto nível, e scrimmar com times da América do Sul ou da Europa sempre foi um desafio logístico.

A Evil Geniuses foi basicamente a última equipe de primeiro escalão do Dota 2 na região.
A EG teve sua cota de problemas, mais ainda assim deixou uma impressão em vários fãs de Dota 2. — Imagem: pngitem

  • Saída das organizações — com a queda de patrocínios, organizações como a Evil Geniuses abandonaram seus elencos ou migraram para outros jogos.
  • Streaming em vez de treino — jogadores talentosos preferiram focar em streamings e criação de conteúdo em vez de competição — afinal, é mais fácil ganhar o mesmo dinheiro com menos estresse.

Atualmente, a América do Norte é uma região praticamente morta e muitos dos seus melhores jogadores se mudaram para a Europa (Quinn, Sneyking) ou simplesmente se aposentaram (EternalEnvy, RTZ).

3. A cultura dos cyber cafés do Sudeste Asiático perdeu força

Logo após a América do Norte temos o Sudeste Asiático, que costumava ser uma das regiões mais caóticas e emocionantes do Dota 2. Nesse sentido, equipes como a Fnatic e a TNC superavam expectativas rotineiramente graças a uma cultura vibrante de cyber cafés — espaços onde jovens se reuniam para competir, treinar e crescer no cenário.

Hoje em dia, o Sudeste Asiático costuma ter mais disputas entre si do que no Dota 2 de alto nível.
Mesmo que o Sudeste Asiático nunca tenha sido a região mais forte, algumas equipes se destacaram por um tempo. — Imagem: Fnatic

Inesperadamente, a ascensão dos jogos mobile mudou tudo:

  • Fim dos Cyber Cafés — Muitos cyber cafés fecharam durante e após a pandemia, e boa parte não reabriu.
  • Alto Custo de Entrada — O alto custo de PCs gamer dificultou a entrada de novos jogadores sem esses espaços comunitários.
  • Jogos como Mobile Legends: Bang Bang explodiram em popularidade, impulsionados por smartphones baratos e fácil acesso.
  • Equipes Seguem o Dinheiro — As melhores organizações do Sudeste Asiático seguiram o dinheiro, migrando para o ecossistema mobile-first.

Ainda há muitos fãs apaixonados por Dota 2 no Sudeste Asiático, mas a "fábrica de talentos" perdeu força, assim como a infraestrutura e a disciplina das equipes.

4. O mobile engoliu os eSports de PC

Nesse meio tempo, temos esse fator dos jogos de celular indo muito além do Sudeste Asiático. Em toda a Ásia e em partes da América Latinaa (incluindo o Brasil), os eSports mobile dominaram. Do Mobile Legends ao PUBG Mobile e passando pelo Honor of Kings, os jogos competitivos de celular oferecem partidas instantâneas, de baixa latência, com enormes premiações — e tudo isso sem precisar de PCs caros ou internet cabeada de alta velocidade.

Os novos talentos de eSports estão nascendo dos jogos de celular e não no PC.
Mobile Legends é um dos vários MOBAs que tomou o lugar do Dota 2 — Imagem: Gamerbraves

Em contraste, o Dota 2 com sua curva de aprendizado enorme, não consegue competir com a acessibilidade desses títulos. Em regiões onde o mobile reina, a nova geração simplesmente não toca no Dota 2. É muito mais barato, fácil e intuitivo pra nova geração jogar no celular.

5. Competição gera excelência

Enquanto outras regiões enfraqueceram, a Europa — especialmente a Europa Oriental — se fortaleceu na adversidade. A região conta com:

  • Alto Nível Em Ranqueadas — Uma base massiva e ativa de jogadores com MMR alto, de Kyiv a Varsóvia.
  • Alto Nível Em Pubs — Pubs incrivelmente competitivos, que revelam prodígios como gpk, Kiritych e Watson.
  • Infraestrutura Acessível — Infraestrutura sustentada por organizações tradicionais como Team Spirit, NaVi, Virtus.pro e novas orgs com ambições globais.
  • Custo de Vida Menor — Custo de vida relativamente baixo, tornando viável para jogadores viverem do Dota, algo que muitas vezes é inviável na Europa Ocidental.

O Team Spirit parece ser a equipe no topo do cenário profissional depois da EWC 2025.
Qual será a grande equipe que a Europa vai gerar a partir de agora? — Imagem: Twitter (@TSpirit_Dota2)

Enquanto outras regiões não têm um caminho para o competitivo saudável, os jogadores da Europa Oriental são forjados em partidas diárias de altíssimo nível. Não é à toa que o ranking de MMR do Dota 2 é frequentemente dominado por bandeiras da Europa Oriental.

Enfim, a Europa — e especialmente o Leste Europeu — virou o centro do Universo do Dota 2 em 2025.

Se você quer vencer no Dota 2, é preciso jogar na Europa. Se quiser aprender o que é o Dota 2 de verdade, jogue em pubs da Europa Oriental. E se quiser ser lembrado na história do Dota 2 começando agora, precisa passar pelo Leste Europeu.

Imagem da Capa: Eric de Oliveira

Comentário (0)

Login para comentar sobre esta partida