Bestia no Major de Austin: cada vez mais longe, mesmo com todos os vistos aprovados
A saga do visto da BESTIA chega ao auge com reviravoltas diárias, transformando o que começou como um obstáculo burocrático em uma das decisões mais polêmicas da história dos Majors de Counter-Strike. Nossa análise anterior detalhou a controvérsia inicial envolvendo a decisão da BLAST de substituir a equipe argentina pela Legacy, mas os acontecimentos recentes só intensificaram o debate e a indignação da comunidade.
Os vistos aprovados que mudaram tudo
Toda a situação mudou drasticamente quando o CEO da BESTIA, Alejandro "PapoMC" Lococo anunciou que os aguardados vistos pendentes da equipe foram aprovados ontem, 22 de maio.
Essa conquista representou o ápice de anos de esforço, já que PapoMC havia explicado anteriormente que a equipe estava "tentando resolver a situação do visto há três anos, mas continuávamos sendo recusados". O timing parecia perfeito – com os vistos garantidos, a BESTIA teria mais de uma semana para organizar a viagem e se preparar para a estreia histórica no Major.
No entanto, a comemoração durou pouco. Apesar da notícia positiva, a BLAST manteve sua posição, confirmando oficialmente a Legacy como substituta da BESTIA e encerrando o sonho argentino no Major.
A postura defensiva da BLAST
A resposta da BLAST à pressão crescente revelou a rigidez da organização em relação aos prazos estabelecidos. Em nota oficial, a BLAST defendeu sua decisão enfatizando que havia definido "um prazo claro para quarta-feira, 21 de maio, às 17h CEST para que os jogadores tivessem os vistos confirmados."
A organizadora do torneio argumentou que a comunicação da BESTIA às 13h20 CEST do dia 21 de maio mencionava apenas "agendamentos de visto, não vistos confirmados," o que "não atendia aos requisitos comunicados." A BLAST afirmou ainda que, embora a expectativa fosse resolver a situação do visto da BESTIA nos dias 26 ou 27 de maio com entrevistas emergenciais, tratava-se apenas de agendamentos, não de aprovações garantidas.
A BLAST também revelou que sua decisão foi "validada pela Valve," sugerindo que a desenvolvedora apoiou a postura da organizadora. Essa validação tem peso significativo, já que a Valve controla os Majors e poderia intervir caso discordasse da decisão.
Detalhes ocultos que ajudam a entender o desafio
Nas primeiras horas de hoje, 23 de maio, Sacha "gAtito" Carruccio trouxe mais detalhes sobre a dificuldade do processo de visto da BESTIA. Em resumo (segundo suas próprias palavras):
- Tomaszin e Luchov teriam os vistos negados, pois já haviam sido recusados várias vezes antes e, na Argentina, um histórico de negativas leva a recusa automática pelo consulado.
- A única forma de reverter isso é com intervenção direta do governo argentino - o que conseguiram fazer.
- A BESTIA tinha confirmação oficial do governo argentino de que os vistos seriam concedidos antes do prazo (99% de confiança) e a BLAST sabia disso.
- O "prazo" de 21 de maio não existia desde fevereiro. A BLAST teria dito "o mais rápido possível", sem uma data fixa.
- A BESTIA conseguiu os vistos como prometido, antes da expectativa inicial de 26 de maio.
- Times sul-americanos enfrentam complexidades de visto que equipes europeias ou norte-americanas não enfrentam. E com histórico de negativas, o processo é ainda mais difícil.
O apoio sem precedentes da comunidade
O apoio segue vindo de todos os cantos do mundo dos esportes eletrônicos, superando fronteiras regionais e rivalidades competitivas. Jogadores de elite, técnicos e fãs mantêm o debate aceso, usando suas plataformas para denunciar o que muitos consideram uma injustiça, especialmente agora que a situação do visto da BESTIA foi resolvida.
O movimento tornou-se um ponto de união para quem acredita em fair play e igualdade de oportunidades, independentemente de nacionalidade ou região. O peso emocional da situação é sentido principalmente por quem entende o significado da conquista da BESTIA. Seria a primeira vez que uma line-up majoritariamente argentina participaria de um Major de Counter-Strike – um marco que representa anos de dedicação e sacrifício dos jogadores e da comunidade argentina de CS.
Possíveis pressões econômicas por trás da decisão
O timing do lançamento dos stickers da Valve em 23 de maio adiciona mais uma camada de complexidade à controvérsia. Os stickers e o viewer pass do BLAST.tv Austin Major ficaram disponíveis apenas dois dias após a decisão final da BLAST de substituir a BESTIA, levantando dúvidas sobre possíveis interesses econômicos no cronograma.
A pressão para finalizar os elencos para produção dos stickers pode ter contribuído para a relutância da BLAST em esperar a resolução do visto da BESTIA. Com os stickers exigindo logos das equipes e autógrafos dos jogadores, qualquer mudança de elenco após a produção geraria complicações logísticas e financeiras. O Major de Xangai 2024 teve as menores vendas de stickers desde 2021, tornando o sucesso comercial do Austin Major ainda mais importante para a Valve e as organizações participantes.
A inclusão da Legacy nos stickers, em vez da BESTIA, significa que a organização brasileira se beneficiará da divisão de receitas do Major, enquanto a BESTIA perde essa oportunidade financeira junto com o sonho competitivo.
Reação injusta contra a Legacy pela decisão da BLAST
Embora a BLAST seja responsável pela decisão polêmica, a Legacy acabou se tornando alvo da frustração da comunidade, apesar de seu papel mínimo na situação. A organização brasileira conquistou legitimamente a vaga como vice-campeã do qualificatório sul-americano, sendo a substituta natural conforme o protocolo dos torneios.
Os ataques à Legacy são uma resposta equivocada a um problema sistêmico. O CEO Ricardo Sinigaglia explicou que, se a Legacy recusasse o convite, a vaga iria para o próximo time no ranking (ODDIK), e não de volta para a BESTIA, mostrando que a participação deles não impede diretamente o retorno da BESTIA.
Os jogadores e a organização da Legacy merecem reconhecimento pelo profissionalismo diante de uma situação difícil. Eles se classificaram legitimamente para o Major e agora estão sendo criticados por aceitar uma oportunidade que qualquer organização competitiva buscaria.
Esperança cada vez menor por uma resolução
Com o passar dos dias desde o anúncio da BLAST, as chances de reversão da decisão diminuem. Apesar da grande pressão da comunidade e da confirmação dos vistos, a BLAST não deu sinais de reconsiderar sua posição. A afirmação de que a Valve "validou" a decisão indica apoio institucional, tornando improvável uma intervenção.
No entanto, a resposta sem precedentes da comunidade mantém uma centelha de esperança viva. A pressão contínua de jogadores profissionais, organizações e fãs demonstra a crença generalizada de que a decisão da BLAST viola princípios fundamentais de integridade competitiva e igualdade regional.
O capitão da BESTIA, Nicolás "Noktse" Dávila, faz uma pergunta que ecoa entre muitos:
"Queria saber o que [BLAST e Valve] fariam se isso acontecesse com um time de Tier S. Queria saber se eles entendem o quão difícil é para uma organização argentina investir e conquistar espaço no circuito."
A BESTIA ainda pode disputar o Major?
Neste momento, as chances da BESTIA recuperar sua vaga no Austin Major são mínimas, mas não totalmente extintas. Apesar de finalmente terem conseguido os vistos para os EUA, a organizadora e a Valve não demonstram intenção de reverter a decisão. Os prazos passaram, os stickers apareceram e a Legacy já se prepara para competir.
Por ora, tudo indica que a Legacy representará a América do Sul em Austin, enquanto a BESTIA e seus apoiadores ficam apenas com o "e se". A situação serve como um poderoso alerta para organizadores de torneios: questões de visto precisam ser tratadas com mais flexibilidade e empatia, especialmente para equipes de regiões que enfrentam barreiras sistêmicas. A menos que BLAST e Valve tomem uma medida extraordinária de última hora, o sonho da BESTIA no Major ficará para a próxima.
Mas o legado da luta e da união inspirada por essa história certamente influenciará os debates sobre justiça e oportunidade no Counter-Strike por muitos anos.
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Créditos das imagens: Bestia
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